"Fico cabisbaixo, sem vida e me dou por vencido, deixo você fazer a festa em minhas memórias. No entanto sobra um gosto revoltado pois a vida não pode ser só isso, deve ser plena, ampla, setembro sempre entrando. Acho desastroso quando fazemos da existência uma novelinha encantada. Detesto lamúrias-auto-cêntricas. Viver está mais pra ser grandioso, deve ultrapassar nossa própria imensidão, precisa ter algo que vá além da gente.
E eis-me aqui, sendo aquilo que eu mais desprezo. Entrego-me a essa autoflagelação e dou a luz a uma imensa pena de mim mesmo, alimentando as pequenas dorzinhas e pra quê? Puro narcisismo. Pura e doce mel-ancolia. Só que dentro de minha confusão, a ternura não cede, invade-me de novo. Tenho um olho atravessado pelo detalhe do sublime.
Tenho repetido que, no que depender de mim, sempre existirá doçura para ti.
Sinto saudade é claro, principalmente das pequenas coisas, aquelas que só temos consciência da grandeza e da importância depois de vividas. Coisas simples como te encontrar e perguntar como foi o seu dia ou se podemos levar peixes dourados para terras distantes. Queria te dizer coisas simples e bonitas, coisas que te mostrassem o quanto você continua importante, o quanto te guardo com carinho em muito de meus dias, coisas desse tipo, que talvez você compreenda como um abraço, ou talvez como uma mentira. Tanto faz.
Nada me toca e nada me define. Fico nesse espaço do não pertencer e apenas me sinto em casa em alguma lembrança onde você esteja fazendo descontrolada uma imensurável desordem com pequenos movimentos que me dá conforto, que me traz esse aconchego que não me lembro muito bem se é uma invenção de meu desejo ou uma proteção contra essa vida que hoje tenho com quinas por todos os lados. Sem você, acabei assim, num quarto cheio de coisas espalhadas pelo chão, uma parede descascando, onde tudo que me toca também me machuca. Às vezes acho que não poderei agüentar e sinto uma vontade afogada de entrar na primeira coisa que se move e me deixar levar para sempre. (...)
Tenho uma saudade louca, dessas que parecem que terminamos apenas ontem. Vontade louca de te buscar e estender meus braços dizendo está tudo bem."
do blog: http://vemcaluisa.blogspot.com/
Há 2 anos